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Entrevista exclusiva com Gabriel Mendes - Técnico da Seleção Brasileira de Futebol Americano - Brasi

Salve Massa!

Como havíamos prometido surpresas, aqui vem a primeira. Entrevistamos Gabriel Mendes (Biel), Head Coach do Brasil Onças - Seleção Brasileira de Futebol Americano. Conheça um pouco quem é e quais são seus planos. Em seguida, acompanhe a entrevista com nosso Head Coach.

Jornalista, 35 anos.

Times:

2001 a 2009 - Botafogo Reptiles

2012 a 2017 - Vasco Patriotas

2015 em diante - Brasil Onças

Títulos:

Penta campeão carioca - 2002, 2003, 2004, 2005 e 2008 (Reptiles)

Campeão da Taça Rio - 2003 (Reptiles)

Campeão da Taça Viene (primeiro torneio de seleções) - 2008, como head coach da seleção carioca

Campeão Brasileiro - 2014 (Vasco Patriotas)

Começou em 2001, como jogador no Reptiles. Nos primeiros jogos, atuando como ofensive tackle e defensive end. Ao longo da carreira, atuou em quase todas as posições, tendo se destacado como tight-end. A partir de 2002, foi assumindo cargos técnicos também. Foi coordenador de defesa, coordenador de ataque e, mais para frente, head coach do Reptiles. Durante o período em que o Reptiles construiu uma dinastia no Rio (foram 4 títulos seguidos, sendo 3 invictos, com 43 jogos sem perder), foi também presidente da equipe. Nessa época (entre 2002 e 2005), ocupou cargos de direção na extinta AFAB também. Foi o primeiro presidente do Conselho Disciplinar, numa época em que era comum jogos terminarem em pancadaria (o que reduziu muito com a criação do Código Disciplinar). Foi presidente do Conselho de Arbitragem e vice-presidente da AFAB.

Publicava "Coluna do Biel", no site do Reptiles, que foi o primeiro "blog" especializado em FA no país. Ou seja, entre 2002 e 2005, sua vida praticamente se resumia a futebol americano 24h por dia, 7 dias da semana. Em 2009, acreditava ter se aposentado, ficando 2010 e 2011 completamente afastado do FA. Em 2012, veio o convite para treinar o Vasco, seu time do coração: “Não tive como dizer não. E foi uma das melhores decisões da minha vida. Em 6 anos, ajudei o Vasco a se classificar sempre para os playoffs, chegamos a 3 finais e conquistamos o título brasileiro em 2014 (o auge da minha carreira). Sob meu comando, o Patriotas se tornou uma referência no futebol americano, servindo de exemplo e inspirando outros times pelo país. Mas muito além dos títulos, criei uma identificação com a torcida vascaína de uma maneira que nunca tinha imaginado. Hoje, sou reconhecido e saudado em jogos em São Januário e no Maracanã. Isso não tem preço.” No ano passado, se aposentou do Patriotas, para dedicar-se mais à vida pessoal e ao jornalismo. Seus planos são de seguir na seleção até a próxima Copa do Mundo. E quando esse ciclo se encerrar, pretende entregar o comando da seleção pela primeira vez a um full time coach, que, em sua visão, é o que a seleção precisa.

Foto: Acervo Pessoal Gabriel Mendes

Entrevista

Espora 13: Hoje nós estamos vendo equipes surgindo com um poder financeiro muito maior do que era no passado, quando o esporte ainda não tinha tanta visibilidade e notoriedade no país. Como você enxerga esta questão econômica e como isso pode influenciar em um campeonato como a Liga Nacional ou BFA?

Gabriel Mendes: Acredito que esse investimento que alguns times vêm fazendo, sobretudo em MG, era o passo que faltava para o futebol americano decolar de vez no país. Durante muito tempo, batemos no peito e nos orgulhamos de jogar por amor. É um discurso bonito, mas não garante o futuro de ninguém, não paga as contas e não assegura o desenvolvimento do esporte. Todos nós, que fizemos parte dessa geração que enfrentou inúmeros perrengues por amor ao esporte, temos nossos méritos. Foi um momento importante e necessário. Mas o momento agora tem que ser de profissionalização. Os atletas há muito vem adotando rotinas de profissionais. Precisam ser reconhecidos financeiramente por isso. O mesmo vale para os coaches, especialmente aqueles que apostaram no sonho de serem apenas treinadores. Minha expectativa é que esses times que estão investindo no esporte se tornem referências. E abram caminho para que mais empresas, clubes, poder público e imprensa acreditem e invistam no futebol americano.

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Espora 13: Diferente do passado, onde as equipes se preocupavam em ter jogadores, já que o esporte não era tão praticado no país e não tinha muita visibilidade, hoje nós temos muitos atletas e equipes que vem se destacando no cenário mesmo sendo tão novos, como exemplo o Galo FA que devido à sua administração montou uma equipe que praticamente é uma mini seleção brasileira. Você acredita que ações como a do Galo FA, com relação à contratação de jogadores, vem a acrescentar no esporte, ou vai causar uma discrepância muito grande entre os times onde ninguém vai conseguir alcançar este mesmo patamar?

Gabriel Mendes: Eu sou totalmente a favor da contratação de atletas, de forma irrestrita, nesse momento. Precisamos pensar em primeiro lugar nos atletas. São os atletas que fazem o esporte. Durante anos, foram eles que enfrentaram rotinas exaustivas para fazer nosso esporte crescer. Muitos têm outro emprego (ou estudam) e ainda arrumam tempo para treinar, malhar, se preparar fisicamente, estudar o playbook, ver vídeos dos adversários. E durante anos, fizeram tudo isso, sem receber. Portanto, acho que não temos o direito de impedir nenhum atleta de viver o sonho de se profissionalizar. Porque não se trata de decidir entre um salário menor e um salário maior. O dilema é entre continuar sendo amador ou se profissionalizar. Essa decisão tem que ser do atleta. E só do atleta. Não podemos desacelerar ou interromper esse processo. Isso seria nivelar por baixo. Precisamos forçar todos os times a se mexerem, correrem atrás de patrocínios, se organizarem fora de campo, estruturarem departamentos de marketing, para conseguirem captar investimentos. Quando todos os times tiverem condições de pagar salário aos jogadores, aí sim eu concordo que sejam criados limites para o poder econômico. Como acontece em vários outros esportes, através de mecanismos que buscam equilibrar a competição. Mas no momento atual, ao meu ver, o fundamental é estimular e possibilitar que o maior número de atletas e coaches sejam remunerados pelo que fazem.

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Espora 13: Aqui no Brasil é inevitável fazer comparações entre os esportes, mas para que o público leigo entenda, pergunto: No Futebol Association (soccer - futebol com os pés) existe o fantástico exemplo da Federação Alemã de Futebol que tem mais de 300 centros de formação para seleções de base e que formam jovens atletas entre 9 e 17 anos. A Seleção e a CBFA, tem algum projeto em fazer um trabalho parecido? É possível levar o Futebol Americano, na modalidade flag, por exemplo, a ser praticado nas escolas de ensino básico e médio? O que falta para isso acontecer?

Gabriel Mendes: A Confederação Brasileira de Futebol Americano tem um programa para o desenvolvimento de jovens, liderado pelo coach Clayton Lovet, que é coordenador defensivo do Brasil Onças e uma das maiores referências do esporte no país. O coach Clayton conta com olheiros espalhados pelo país, encarregados de identificar jovens promessas, que possam servir à seleção no futuro. Sem sombra de dúvidas, programas de base são essenciais para o esporte subir de nível. É impossível alguém que começa a treinar futebol americano aos 16, 17 anos (como acontece no Brasil) ter o mesmo desempenho de alguém que treina desde os 8, 9 anos (como nos EUA). Há algum tempo, praticamente não havia escolinhas ou programa de treinos para crianças e adolescentes. Hoje, cada vez mais times investem na base. Bons exemplos são o programa de desenvolvimento do T-Rex que já revelou vários jogadores de destaque. E a Rio Football Academy (RFA), que hoje é o melhor centro de formação de jovens do país. A consequência desse investimento nos jovens é que a nossa próxima geração de atletas estará muito mais preparada, madura e desenvolvida tecnicamente do que a atual.

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Espora 13: Embora o trabalho administrativo seja muito importante para montar grandes times, a exemplo do Galo FA e T-Rex, é necessário também uma capacitação muito grande da comissão técnica. O que você acredita que deve ser feito para que no Brasil aconteça essa capacitação, uma vez que muitas pessoas ainda estão em um time mais por amor à equipe e não por ter um conhecimento necessário e apropriado para o desenvolvimento de atletas? E o que é necessário para constituir/montar uma comissão técnica de alto nível para um time de alto nível?

Gabriel Mendes: É preciso haver profissionalização. Assim como os atletas, os coaches e assistentes precisam ser remunerados. Sei que é um processo lento, gradativo. Mas já começou e alguns técnicos, como os coaches Tidus (Lusa) e Lex Braga (Galo), já conseguem viver apenas de futebol americano. Sem falar nos coaches Brian Guzman e Amadeo Salvador, que estão no exterior construindo uma carreira internacional. O nível do futebol americano no Brasil subiu de uma forma tal que em pouco tempo não haverá espaço para técnicos amadores, ou half time coaches. É impossível para um técnico que tem outro emprego competir com um técnico que se dedica exclusivamente ao futebol americano. Pegue o meu exemplo. Eu sou jornalista, trabalho 8 horas por dia, muitas vezes faço hora extra, checo e-mails de casa. Quando treinava o Vasco Patriotas, eu conseguia dedicar diariamente 2 ou 3 horas para o time. Quando muito, 4 horas. E ficava esgotado. Um full-time coach pode dedicar 12 horas por dia ao time. É um abismo gigantesco, num esporte em que análise de vídeo, estudo do adversário e game plan fazem toda a diferença.

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Espora 13: Ainda sobre o crescimento do esporte, quando o jogador chega ao Brasil Onças, vocês ainda trabalham fundamentos ou se concentram em trabalhar o playbook?

Gabriel Mendes: Na seleção, a gente parte da premissa de que os jogadores não têm falhas técnicas gritantes. Então não perdemos tempo com fundamentos. É claro que sempre tem algo a ser corrigido, até porque na seleção temos alguns dos melhores técnicos do país. Mas do ponto de vista do planejamento de treinos, o mais importante é executar o playbook e gerar entrosamento entre os atletas.

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Espora 13: Você esteve na Copa do Mundo de 2015. Imagino ter sido um momento fantástico presenciar o primeiro touchdown do Brasil em uma copa do mundo. E agora? O quanto evoluímos como Seleção? Quais são as expectativas para a próxima Copa do Mundo? O que o torcedor brasileiro pode esperar do nosso Brasil Onças?

Gabriel Mendes: A Copa do Mundo foi um momento único. Foi a coroação de uma geração que batalhou muito para estar lá. Tecnicamente, a seleção teve um resultado apenas regular. Perdemos fácil da França. E tínhamos que perder mesmo, porque os franceses eram melhores, maiores, mais fortes e mais técnicos. Ganhamos fácil da Coreia do Sul. E tinha que ser assim mesmo. A derrota para a Austrália é que foi doída. As seleções eram tecnicamente e fisicamente equivalentes. Talvez a inexperiência tenha pesado. A Austrália é uma seleção que a gente tem totais condições de vencer. E contra a França, acreditamos que podemos fazer um jogo mais equilibrado. É claro que não temos qualquer chance de vencer EUA, México ou Canadá. Mas nosso objetivo é alçar o Brasil ao segundo escalão internacional, deixando em condições de jogar de igual pra igual com algumas das melhores seleções europeias.

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Espora 13: Quando será a próxima convocação da seleção e mesmo sabendo que o campeonato nacional ainda vai começar, gostaríamos de saber se a seleção continua com sua base ou teremos boas surpresas?

Gabriel Mendes: A próxima convocação vai depender do próximo evento da seleção. Infelizmente esse calendário não está pronto. A CBFA está trabalhando para que tenhamos algo no fim deste ano, mas por enquanto, não há nada de concreto. Quanto a surpresas na convocação, tudo vai depender do desempenho dos atletas. Nós temos um processo de análise de highlights que vem funcionando muito bem. Os atletas entenderam o nosso projeto e perceberam que essa é a forma mais democrática e mais acessível. Não há panelinha, nem convocação por nome. Todos os atletas do país têm chance de servir à seleção. Nossa comissão técnica analisa centenas de vídeos, para garantir que os melhores sejam selecionados. E o que me deixa muito feliz é que a comunidade de futebol americano entendeu o projeto e vem colaborando muito nesse sentido.

Foto: Acervo Pessoal Gabriel Mendes

É isso, pessoal. Nós, do Espora 13, agradecemos a generosidade do Gabriel em nos conceder essa entrevista exclusiva.

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Abraço a todos e até a próxima.

Esporada neles, Galo!


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